solitaria543

quarta-feira, agosto 02, 2006

Não sou poeta

Ser poeta? Quem me dera,
Pois que não tenho idéias,
Aquelas, que tem os poetas...
Não entendo de rimas,
De métrica eu nada sei,
Apenas brinco com as palavras
E como brincam as crianças...
Gosto de vê-las
Todas enfileiradas ou em círculos,
Como se brincassem de roda...
Gosto de vê-las contentes,
Sempre em ordem crescente,
Como num dia de festa,
Com roupagens coloridas,
E como as mais leves plumas
Vão deslizando no ar,
Deixando um doce perfume...
Para não vê-las tristes,
Sozinhas,
Dou pra elas as mãos,
E nesta brincadeira,
Levamos a tarde inteira.
Estas palavras meninas,
Gostam muito de cantar,
Conhecem tantas cantigas,
Uma novas, outras antigas
E muitas canções de ninar.
Quando estão de mãos dadas,
Dançam, dançam sem parar...
E quando ficam cansadas,
Umas tropeçam nas outras,
E vão caindo em cascatas...
Eu fico muito feliz,
Quando nelas dou um nó,
E então, vejo-as desenxabidas,
Que ficam até escondidas,
Pra fugirem à explicação.
Mas de certeza, o que mais gosto,
É de vê-las saltar, soltas,
Como se fossem pipocas,
Elas esquentam na mente,
Vão virando sementes,
E como numa plantação,
Vão nascendo, vão crescendo,
E alimentam toda gente.
Fico triste às vezes,
Quando vejo muitas palavras
Sisudas, velhas, cheias de preconceitos...
E outras então, nem querem brincar,
Preferem ficar pelos cantos,
Têm medo de tudo,
Ficam dentro de casa,
Sem de nada participar...
Outras então são tão arrogantes,
Sabem de tudo,
Dizem até que são donas da verdade,
São tão orgulhosas,
Que nem olham para as outras palavras...
Fico apavorada,
Quando vejo palavras maldosas,
Querendo as outras escravizar,
E pra isso conseguir,
Não importam os meios,
Podem até matar!
Mas quando as vejo assim, inquietas,
Prendo-as todas no dicionário,
Para não vê-las fugir...
Quando quero brincar novamente,
Abro o livro de repente
E elas ficam todas contentes,
Querendo do dicionário escapar.
Mas logo digo:
-Hoje não posso brincar!
Elas ficam tão tristes,
Olhando-me de soslaio,
Tentando me comover
Com seus olhinhos tristonhos.
Então, escolho algumas,
Aquelas que estão mais tristinhas,
E convido-as pra sair...
As outras, encolhidas, descontentes,
Vão embora,
Sem me dizerem adeus...
Não sou poeta,
Mas gostaria de ser!

Vilma da Silva Nunes