solitaria543

domingo, agosto 06, 2006

Enganos

Sabe o que é esperar o amor?
Sim, esperar por ele a vida inteira!
Esperar por ele todos esses longos anos,
Esperar sentir as emoções que a ele são próprias?

Esperar sentir no coração aquelas coisas todas,
Que todos dizem sentir quando amam.
Então decidi esperar por ele,
Com o coração aberto, os olhos despertos,
Para que, quando o amor chegasse,
Pudesse estar preparada...

Olhava todos os rostos,
Será que é este? aquele?
Aquele outro?
Mas os rostos não me diziam nada,
Eram como máscaras,
Não traziam nenhuma emoção,
Passavam por mim, mas não me viam,
Desviavam, apressados
Iam pra outro lado...
Então desisti, vi que o amor,
Não estava nos rostos...

Comecei a procurar o amor
Em cada olhar
E nesta busca, descobri olhares fingidos,
Olhares furtivos, fugidios,
Outros altivos, tão orgulhosos
Que não valiam a pena encarar,
Vi então que não havia amor
Em todos os olhares que encontrei...

Mas sempre me inquiria,
Onde está o amor?
Deve estar em algum lugar,
E voltei a procurar...
Descobri que o amor
Pode passar pelos fios,
Pelos fios das cordas vocais,
Pelos fios do telefone,
Via Internet...

Ouvi então o amor...
Como é bonita a voz do amor,
Melodiosa, aveludada,
Diz palavras tão doces,
Mais doces que o mais puro mel...
Encantei-me, apaixonei-me
Pela voz do amor.

Mas o amor é inconstante,
Inconseqüente...
Não mede as palavras,
Diz tudo o que quer,
Pois que não tem que mostrar o rosto,
Muito menos precisa
Para o outro olhar, encarar.
É evidente que as emoções sentidas
São fingidas...

Aquela voz envolvente,
Dizendo tudo que sempre pensei ouvir,
Pareciam tão reais...

E protegida, sem se expor,
A voz do amor vai dizendo
Palavras e mais palavras,
E sempre escolhe as mais bonitas,
As mais galantes,
Aquelas palavras que só deveriam sair
Do fundo do coração,
Do profundo da alma...

O coração ficava transbordante
De alegria, dizia-me:
-A felicidade existe, é real,
Encontrei o amor afinal,
Mesmo sem ter um rosto para acariciar,
Sem jamais me contemplar
Dentro daquele olhar...
Somente a voz conhecia,
Pensava que conhecia aquela voz,
Quando estava triste, alegre...

Ela gosta muito de parecer real,
De modular as palavras,
Com carinho, com dulçor,
E nesta sua loucura,
Chora, sorri, grita,
E vai proferindo promessas,
É uma perfeita atriz!
Difícil não acreditar!

Mas quando é preciso sair detrás dos fios,
Por em prática as tais promessas,
Fica muda, desconversa, corta o fio
E sem mais explicações,
Esquece as palavras proferidas.

Jamais aceita mostrar a cara,
A voz, é apenas uma voz,
Não sente, não se importa com ninguém,
Apenas mente,
Sabe enganar como ninguém,
E parte em busca de novas emoções,
A procura de outra voz
Para treinar a sua performance,
Até chegar a perfeição!

Nesta minha procura,
Descobri que o amor
Não está no rosto,
Não está no olhar,
Não está na voz, nem nas palavras
Que desprovidas de sentimentos,
São apenas palavras, mais nada.
Desconfio que o amor está escondido
Dentro de nós,
Mas temos medo de o expor,
De sermos ridículos, fora de moda,
Ou sei lá quantas mais razões
Temos nós ao esconder o amor.

Estou hoje vencida,
A procura de nada,
E como diz o poeta dos poetas,
“A vida sempre me doeu, e eu infeliz,
Quero chorar, mas oh!
Onde buscar as lágrimas?
Que há de ser de mim?”
Onde será que está o amor,
que não o encontro?
Nesta busca, envelheci,
Muito mais do que vivi.

Vilma Nunes